segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Bailarina!

Saltos, rodopios e giros abstratos
Pule bailarina,
Cuidado, não se machuque!
Ainda não é o ultimo ato

Pule bailarina
Cuidado,

Sorria sem demostrar dor
Não chore, pois esta feliz,
Esta dançando!

Pule bailarina
Pule e caia
Caia no esquecimento, depois do seu ultimo ato!
Caia na solidão desagradável
Caia no escuro apos se apagarem as luzes
Caia, e só caia, linda bailarina.

Autor G.Cardoso

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Sorrias pra mim!

O seu sorriso contagiai o mais triste dos mortais,
Alegra corações, encanta!
O seu olhar com fantasia, a procura de um cais,
Inebria a nós crianças, espanta!

Não olhes assim
Menina, não vais
Sorrias pra mim
Diga, até mais!

Sonha correr pelo mundo afora
Então suplicas a Deus em oração!
E gosta do por do Sol e da aurora
Do calor que aquece o coração!

Linda menina,
Tão, linda assim!
Amiga menina
Sorrias pra mim!

Tão forte menina,
Tão linda assim!
Linda menina,
Sorrias pra mim!

Autor: G.Cardoso

Obs: Poesia feita para uma pessoa incrível e muito especial, com um sorriso encantador e contagiante, uma linda musa, uma linda mulher, linda!!! :)

Poema

Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho
E lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era ainda criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou consolo
Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
E que não tem fim
De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás
Autor: Cazuza
Obs: poesia feita por Cazuza para seu avo, apos sua morte foi musicalizada por Frejat e cantada por Ney Matogrosso, por sinal uma linda musica também!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Minha poesia!

Gostaria de criar uma poesia
Tão linda quanto às pinturas de Da Vinci
Que rodopiasse tanto quanto a valsa do lago dos cisnes,
Mas não sou nenhum Camões ou Vinicius com seus amados sonetos
Ou muito menos um dos heterônimos de Fernando Pessoa
Não tenho a métrica correta dos parnasianos
Nem tão pouco sou misterioso quanto os simbolistas
Não canto tão bem sobre a morte como Cecília Meireles
Não saberia falar de um louco como Miguel de Cervantes!

Gostaria que ela fosse eterna igual ao retrato de Dorian Gray
Que ficasse no subconsciente, iguais aos refrãos de musicas populares
Que não fosse utópico e sim metafísico,
Mas não sei amar como Platão
Tão pouco sou tão filosofo quanto Friedrich Nietzsche
Não faço auto-ajuda nem sou espiritista como Paulo Coelho
Não sou ótimo romancista como Machado de Assis
Não sei se sou ou não sou, há se Shakespeare pudesse me ajudar
Não sinto falta da corrente como Carlos Drummond de Andrade,
Mas sinto a necessidade de escrever, e não irei me conter
Mesmo que minha poesia não for tão lida quanto é assistida A noviça rebelde,
Mesmo não sendo tão criticada quanto é Augusto dos Anjos em Versos Íntimos
Mesmo sendo apenas, a minha poesia!

Autor: G.Cardoso



obs: com essa poesia eu fiquei em sexto lugar no VI concurso de poesia da Universidade do Grande ABC (UniABC), fiquei bastante lisonjeado também!

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...



Autor: Alphonsus de Guimaraens

domingo, 16 de outubro de 2011

Sentimentos Abstratos

Nesse momento se encontra meu coração na ponta da caneta
Meus sentimentos ilustram esse nobre papel
Lagrimas que escorrem pelo rosto e borram a tinta
Transforma todo meu ser em abstrato
E a poesia canta alto em meu peito
Choro num canto escondido,
E escrevo
Peço ajuda ao Divino,
E escrevo
Morro agora esquecido...
E já não mais escrevo.

Autor: G.Cardoso

Canção da janela aberta

Passa nuvem, passa estrela,
Passa a lua na janela...

Sem mais cuidado na terra,
Preguei meus olhos no Céu.

E o meu quarto, pela noite
Imensa e triste, navega...

Deito-me ao fundo do barco,
Sob os silêncios do Céu.

Adeus, cidade maldita,
Que lá se vai o teu Poeta.

Adeus para sempre, amigos...
Vou sepultar-me no Céu!

Autor: Mario Quintana

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Esperança

Como escrever sobre a fome?
Sobre guerras, desconstruções de nosso planeta?
Como atingir os corações?
De pessoas que não enxergam essa realidade!
Como fazer para que possam enxergar?
Como alcançar a paz, sem precisar de luta?
Como espalhar amor?
Se a fome já corrói o coração!
Como fechar os olhos?
Se esta tudo ao seu redor!
E a educação, quando será proliferada?
Quando haverá mais corações do que maquinas?
Quando a sensibilidade será mais importante do que a rispidez?
Quando prevalecera a justiça?
E não mais existira preconceitos?
Quando as estrelas poderão brilhar mais forte?
E quando os olhos brilharão, sem lagrimas, só por alegria?

Autor: G.Cardoso

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Pensamento

O pensamento sobrevoa a razão
O ser interpreta, critica, refuta, diz: não
Volta às origens, abandona o escuro, sai da caverna
Aceita o pensamento, entra em consenso!
Desmitifica, grita, ascende uma lanterna
Indaga, e na palavra busca um poder intenso
Cresce se reproduz e não morre
Clama por sabedoria, e a ela socorre.

Autor: G.Cardoso

Perguntas de um trabalhador que lê

Quem construiu a Tebas das sete portas?
Nos livros constam os nomes dos reis.
Os reis arrastaram os blocos de pedra?
E a Babilônia tantas vezes destruída
Quem a ergueu outras tantas?
Em que casas da Lima radiante de ouro
Moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros
Na noite em que ficou pronta a Muralha da China?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo
quem os levantou?
Sobra quem triunfaram os césares?
A decantada Bizâncio só tinha palácios
Para os seus habitantes?
Mesmo na legendaria Atlântida,
Na noite em que o mar a engoliu,
Os que se afogavam gritavam pelos seus escravos?
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Ele sozinho?
César bateu os gauleses.
Não tinha pelo menos um cozinheiro consigo?
Felipe de Espanha chorou quando sua Armada naufragou.
Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem, venceu alem dele?
Uma vitória em cada página.
Quem cozinhava os banquetes da vitória?
Um grande homem a cada dez anos.
Quem pagava as suas despesas?
Tantos relatos.
Tantas perguntas

Autor:Bertolt Brecht

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Novo Ícaro

Queria voar!
Então saltei aos céus,
Mas esqueci minhas asas!

Autor: G.Cardoso

(Texto de um amigo)

De um amigo cristão!!

Olá poeta como andam o lápis, a caneta, as linhas retas?
Com insensatez? Ironia? Esquizofrenia? Sabedoria?
De Deus? Do inferno? Do errado? Do certo?
Do amor? Da paixão? Do amigo? Dos filhos? Dos soldados?
Dos bandidos? Dos políticos? Dos livros? Dos mestres? Do violão?
Com certeza? Com duvida? Na residência? Na rua?
Com emoção? Ficção? Razão?
Conscientização! Pois sendo assim será sempre,
Um verdadeiro Gideão ... 

Autor: Vinicius Batista                                                                      

sábado, 30 de abril de 2011

Me diga criança!

Me diga criança,
Por que esta chorando?
Não gostas da dança?
Deveria estar cantando

Me diga criança,
A vida esta ruim?
Falta esperança?
Não penses só no fim

Me diga criança,
Não sabes mais sorrir?
Só pensas em vingança?
Um dia ira parir!

O trabalho a cansa?
Então senta descansa
Deixe o mundo La fora
Deixe a tristeza ir embora

Quer um colo, um abraço?
Pegue um cigarro do maço,
Escolha um filme para assistir,
E esqueça a dor que a por vir

Autor: G.Cardoso

Grilo

Escuto lá fora o grilo cantar
Dentro da escola assovio a pensar
Se eu grilo tivesse nascido
Diria que a escola canta enquanto eu assovio

Autor: Geliston

Sonhando

Na praia deserta que a lua branqueia,
Que mimo! que rosa! que filha de Deus!
Tão pálida - ao vê-la meu ser devaneia,
Sufoco nos lábios os hálitos meus!
              Não corras na areia,
              Nãi corras assim!
              Donzela, onde vais?
              Tem pena de mim!

A praia é tão longa! e a onda bravia
As roupas de gaza te molha de escuma;
De noite - aos serenos - a areis é tão fria,
tão úmido o vento que os ares perfuma!
              És tão doentia!
              Não corras assim!
              Donzela, onde vais?
              Tem pena de mim!

A brisa teus negros cabelos soltou,
O orvalho da face te esfria o suor;
Teus seios palpitam - a brisa os roçou,
Beijou-os, suspira, desmaia de amor!
              Teu pé tropeçou...
              Não corras assim!
              Donzela, onde vais?
              Tem pena de mim!

E o pálido mimo da minha paixão
Num longo soluço tremeu e parou;
Sentou-se na praia; sozinha no chão
A mão regalada no colo pousou!
              Que tens, coração,
              Que tremes assim?
              Cansaste, donsela?
              Tem pena de mim!

Deitou-se na areia que a vaga molhou.
Imóvel e branca na praia dormia;
Mas nem os seus olhos o sono fechou
E nem o seu colo de ne tremia.
              O seio gelou?...
              Não durmas assim!
              Ó pálida fria,
              Tem pena de mim!

Dormia - na fronte que níveo suar!
Que mão regelada no lânguido peito!
Não era mais alvo seu leito do mar.
Não era mais frio seu gélido leito!
              Nem um ressoar!...
              Não durmas assim!
              Ó pálida fria,
              Tem pena de mim!

Aqui no meu peito vem antes sonhar
Nos longos suspiros do meu coração:
Eu quero em meus lábios tue seio aquentar,
Teu colo, essa faces, e a gélida mão!
              Não durmas no mar!
              Não durmas assim.
              Estatua sem vida,
              Tem pena de mim!

E a vaga crescia seu corpo banhado,
As candidas formas movendo de leve!
E eu vi-a suave nas águas boiando
Com soltos cabelos nas roupas de neve!
              Nas vagas sonhanda
              Não durmas assim;
              Donzela, onde vais?
              Tem pena de mim!

E a imagem da virgem nas águas do mar
Brilhava tão branca no límpedo véu!
Nem mais transparente luzia o luar
No ambiente sem nuvens da noite do céu!
              Nas águas do mar
              Não durmas assim!
              Não morras donzela;
              Espera por mim!

Autor: Álvares de Azevedo

domingo, 27 de março de 2011

De vermelho é pichado!

Acorda cedo,
Mas cedo não volta!                                                    
Passa até medo
Medo e revolta,
Angustiado o coitado
-Trabalho desalmado!

Escute a prece
De um pobre iludido
Da vida que esquece
Que o torna bandido

Com honra escute
O desespero no grito,
E não se refute!
Não é um mero mito

De vermelho é pichado
O asfalto e o muro
Pobre coitado
Descansa no escuro.
E ainda assim pensa na labuta
Que o afastou de sua vida, curta.

Autor: G.Cardoso

Poema cachaça

Eu queria fazer uma poesia
que fosse clara como a luz do dia
para ser consumida como pão.

Uma poesia assim,
agridoce como a fruta do mato,
pura como a água do regato,
melodiosa como uma canção.

Uma poesia assim,
que trouxesse beleza em cada rima,
para ser cantada no trabalho,
para ser batucada na marmita,
para ser comentada nas esquinas.

Uma poesia assim,
comum e popular como a cachaça
que se bebe barato, que é de graça,
que é do rico, do pobre, do sem nome.
Uma poesia que todos entendessem
como todos entendem a palavra amor,
ou palavra fome...

Autor: Castelo Hanssen

terça-feira, 1 de março de 2011

Madrugada de Jonas!

Estava eu numa madrugada fria, por meio das duas da manha, assistintindo a um programa de comedia, ou seja, rindo!
Nem me dava conta que lá fora o tempo tomava um rumo muito estranho.
Levantei do sofá para ir me deitar, mas antes de desligar a televisão, eu prestava atenção a uma ultima piada, com o dedo no botão de desligar!
Quando sem mais nem menos a TV desliga, achei que teria apertado demasiado o botão.
Quando resolvo olhar para fora vejo aquela noite branca, não clara, pelo contrario muito escura, mais branca!
Branca de neblina, não dava pra se enxergar um metro a sua frente, achei estranho, mas poderia ser coisas da minha cabeça, resolvi retirar-me pra meu quarto.
Quando alcanço o interruptor, descobri que não era eu quem tinha desligado o televisor e sim a energia tinha acabado, e como não dava para ver nada lá fora, deduzi que haverá acabado em toda a região!
Deito-me, meio assustado, não sou muito adepto ao breu! Quando sentia meu olho pesado com o sono chegando, ouvi bater na porta três vezes.
Pensei ser coisa da minha cabeça, pensei fingir que não estava ali e simplesmente ignorar as batidas, mas já era tomado por uma enorme curiosidade, curiosidade de saber quem me procuraria àquela hora.
Então em um súbito de coragem eu grito: quem está ai?
E ouço uma voz de mulher: aqui está tão frio e escuro!
Pela voz era uma mulher nova, na flor da idade, era uma voz melodiosa, doce, terna, e tão suave quanto acolhedora, estranhamente não me parecia uma voz desconhecida!
Hipnotizado pela doce voz, resolvi abrir a porta!
Mas ela não entrou, ficou parada entre os batentes me fitando, seus olhos eram tão penetrantes e envolventes, sua pele era tão branca quanto a neblina, que atrás dela montava um fundo fúnebre, como de um teatro gótico, sua roupa era toda preta apertada mostrando as curvas vastas de seu corpo.
Linda! Essa era a única coisa que avia na minha cabeça, linda, não passava de uma garota com mais ou menos 23 anos, linda.
De repente ela abre a boca novamente com sua vos melodiosa e diz!
Venha Jonas me siga!
Eu me pergunto como ela sabe meu nome, mas ela é tão linda!
Ela estende sua mão direita para mim, e como num súbito agarro sua mão!
Ela me guia para fora noite e neblina adentro.
De mãos dadas comigo ela diz:
_Desculpe-me Jonas, esqueci de me apresentar, meu nome é Morte!

Autor: G.Cardoso

O ex-mágico da Taberna Minhota

Hoje sou funcionário público e este não é o meu desconsolo maior.

Na verdade, eu não estava preparado para o sofrimento. Todo homem, ao atingir certa idade, pode perfeitamente enfrentar a avalanche do tédio e da amargura, pois desde a meninice acostumou-se às vicissitudes, através de um processo lento e gradativo de dissabores.

Tal não aconteceu comigo. Fui atirado à vida sem pais, infância ou juventude.

Um dia dei com os meus cabelos ligeiramente grisalhos, no espelho da Taberna Minhota. A descoberta não me espantou e tampouco me surpreendi ao retirar do bolso o dono do restaurante. Ele sim, perplexo, me perguntou como podia ter feito aquilo.

O que poderia responder, nessa situação, uma pessoa que não encontrava a menor explicação para sua presença no mundo? Disse-lhe que estava cansado. Nascera cansado e entediado.

Sem meditar na resposta, ou fazer outras perguntas, ofereceu-me emprego e passei daquele momento em diante a divertir a freguesia da casa com os meus passes mágicos.

O homem, entretanto, não gostou da minha prática de oferecer aos espectadores almoços gratuitos, que eu extraía misteriosamente de dentro do paletó. Considerando não ser dos melhores negócios aumentar o número de fregueses sem o conseqüente acréscimo nos lucros, apresentou-me ao empresário do Circo-Parque Andaluz, que, posto a par das minhas habilidades, propôs contratar-me. Antes, porém, aconselhou-o que se prevenisse contra os meus truques, pois ninguém estranharia se me ocorresse a idéia de distribuir ingressos graciosos para os espetáculos.

Contrariando as previsões pessimistas do primeiro patrão, o meu comportamento foi exemplar. As minhas apresentações em público não só empolgaram multidões como deram fabulosos lucros aos donos da companhia.

A platéia, em geral, me recebia com frieza, talvez por não me exibir de casaca e cartola. Mas quando, sem querer, começava a extrair do chapéu coelhos, cobras, lagartos, os assistentes vibravam. Sobretudo no último número, em que eu fazia surgir, por entre os dedos, um jacaré. Em seguida, comprimindo o animal pelas extremidades, transformava-o numa sanfona. E encerrava o espetáculo tocando o Hino Nacional da Cochinchina. Os aplausos estrugiam de todos os lados, sob o meu olhar distante.

O gerente do circo, a me espreitar de longe, danava-se com a minha indiferença pelas palmas da assistência. Notadamente se elas partiam das criancinhas que me iam aplaudir nas matinês de domingo. Por que me emocionar, se não me causavam pena aqueles rostos inocentes, destinados a passar pelos sofrimentos que acompanham o amadurecimento do homem? Muito menos me ocorria odiá-las por terem tudo que ambicionei e não tive: um nascimento e um passado.

Com o crescimento da popularidade a minha vida tornou-se insuportável.

Às vezes, sentado em algum café, a olhar cismativamente o povo desfilando na calçada, arrancava do bolso pombos, gaivotas, maritacas. As pessoas que se encontravam nas imediações, julgando intencional o meu gesto, rompiam em estridentes gargalhadas. Eu olhava melancólico para o chão e resmungava contra o mundo e os pássaros.

Se, distraído, abria as mãos, delas escorregavam esquisitos objetos. A ponto de me surpreender, certa vez, puxando da manga da camisa uma figura, depois outra. Por fim, estava rodeado de figuras estranhas, sem saber que destino lhes dar.

Nada fazia. Olhava para os lados e implorava com os olhos por um socorro que não poderia vir de parte alguma.

Situação cruciante.

Quase sempre, ao tirar o lenço para assoar o nariz, provocava o assombro dos que estavam próximos, sacando um lençol do bolso. Se mexia na gola do paletó, logo aparecia um urubu. Em outras ocasiões, indo amarrar o cordão do sapato, das minhas calças deslizavam cobras. Mulheres e crianças gritavam. Vinham guardas, ajuntavam-se curiosos, um escândalo. Tinha de comparecer à delegacia e ouvir pacientemente da autoridade policial ser proibido soltar serpentes nas vias públicas.


Não protestava. Tímido e humilde mencionava a minha condição de mágico, reafirmando o propósito de não molestar ninguém.

Também, à noite, em meio a um sono tranqüilo, costumava acordar sobressaltado: era um pássaro ruidoso que batera as asas ao sair do meu ouvido.

Numa dessas vezes, irritado, disposto a nunca mais fazer mágicas, mutilei as mãos. Não adiantou. Ao primeiro movimento que fiz, elas reapareceram novas e perfeitas nas pontas dos tocos de braço. Acontecimento de desesperar qualquer pessoa, principalmente um mágico enfastiado do ofício.


Urgia encontrar solução para o meu desespero. Pensando bem, concluí que somente a morte poria termo ao meu desconsolo.

Firme no propósito, tirei dos bolsos uma dúzia de leões e, cruzando os braços, aguardei o momento em que seria devorado por eles. Nenhum mal me fizeram. Rodearam-me, farejaram minhas roupas, olharam a paisagem, e se foram.

Na manhã seguinte regressaram e se puseram, acintosos, diante de mim.

— O que desejam, estúpidos animais?! — gritei, indignado.

Sacudiram com tristeza as jubas e imploraram-me que os fizesse desaparecer:

— Este mundo é tremendamente tedioso — concluíram.

Não consegui refrear a raiva. Matei-os todos e me pus a devorá-los. Esperava morrer, vítima de fatal indigestão.

Sofrimento dos sofrimentos! Tive imensa dor de barriga e continuei a viver.

O fracasso da tentativa multiplicou minha frustração. Afastei-me da zona urbana e busquei a serra. Ao alcançar seu ponto mais alto, que dominava escuro abismo, abandonei o corpo ao espaço.

Senti apenas uma leve sensação da vizinhança da morte: logo me vi amparado por um pára-quedas. Com dificuldade, machucando-me nas pedras, sujo e estropiado, consegui regressar à cidade, onde a minha primeira providência foi adquirir uma pistola.

Em casa, estendido na cama, levei a arma ao ouvido. Puxei o gatilho, à espera do estampido, a dor da bala penetrando na minha cabeça.

Não veio o disparo nem a morte: a máuser se transformara num lápis.

Rolei até o chão, soluçando. Eu, que podia criar outros seres, não encontrava meios de libertar-me da existência.


Uma frase que escutara por acaso, na rua, trouxe-me nova esperança de romper em definitivo com a vida. Ouvira de um homem triste que ser funcionário público era suicidar-se aos poucos.

Não me encontrava em condições de determinar qual a forma de suicídio que melhor me convinha: se lenta ou rápida. Por isso empreguei-me numa Secretaria de Estado.


1930, ano amargo. Foi mais longo que os posteriores à primeira manifestação que tive da minha existência, ante o espelho da Taberna Minhota.

Não morri, conforme esperava. Maiores foram as minhas aflições, maior o meu desconsolo.

Quando era mágico, pouco lidava com os homens -o palco me distanciava deles. Agora, obrigado a constante contato com meus semelhantes, necessitava compreendê-los, disfarçar a náusea que me causavam.

O pior é que, sendo diminuto meu serviço, via -me na contingência de permanecer à toa horas a fio. E o ócio levou -me à revolta contra a falta de um passado. Por que somente eu, entre todos os que viviam sob os meus olhos, não tinha alguma coisa para recordar? Os meus dias flutuavam confusos, mesclados com pobres recordações, pequeno saldo de três anos de vida.

O amor que me veio por uma funcionária, vizinha de mesa de trabalho, distraiu-me um pouco das minhas inquietações.

Distração momentânea. Cedo retornou o desassossego, debatia-me em incertezas. Como me declarar à minha colega? Se nunca fizera uma declaração de amor e não tivera sequer uma experiência sentimental!

1931 entrou triste, com ameaças de demissões coletivas na Secretaria e a recusa da datilógrafa em me aceitar. Ante o risco de ser demitido, procurei acautelar meus interesses. (Não me importava o emprego. Somente temia ficar longe da mulher que me rejeitara, mas cuja presença me era agora indispensável.)

Fui ao chefe da seção e lhe declarei que não podia ser dispensado, pois, tendo dez anos de casa, adquirira estabilidade no cargo.

Fitou-me por algum tempo em silêncio. Depois, fechando a cara, disse que estava atônito com meu cinismo. Jamais poderia esperar de alguém, com um ano de trabalho, ter a ousadia de afirmar que tinha dez.

Para lhe provar não ser leviana a minha atitude, procurei nos bolsos os documentos que comprovavam a lisura do meu procedimento. Estupefato, deles retirei apenas um papel amarrotado — fragmento de um poema inspirado nos seios da datilógrafa.

Revolvi, ansioso, todos os bolsos e nada encontrei.

Tive que confessar minha derrota. Confiara demais na faculdade de fazer mágicas e ela fora anulada pela burocracia.

Hoje, sem os antigos e miraculosos dons de mago, não consigo abandonar a pior das ocupações humanas. Falta-me o amor da companheira de trabalho, a presença de amigos, o que me obriga a andar por lugares solitários. Sou visto muitas vezes procurando retirar com os dedos, do interior da roupa, qualquer coisa que ninguém enxerga, por mais que atente a vista.

Pensam que estou louco, principalmente quando atiro ao ar essas pequeninas coisas.

Tenho a impressão de que é uma andorinha a se desvencilhar das minhas mãos. Suspiro alto e fundo.

Não me conforta a ilusão. Serve somente para aumentar o arrependimento de não ter criado todo um mundo mágico.

Por instantes, imagino como seria maravilhoso arrancar do corpo lenços vermelhos, azuis, brancos, verdes. Encher a noite com fogos de artifício. Erguer o rosto para o céu e deixar que pelos meus lábios saísse o arco-íris. Um arco-íris que cobrisse a Terra de um extremo a outro. E os aplausos dos homens de cabelos brancos, das meigas criancinhas.


Autor: Murilo Rubião

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Choro a lápis

Usava sempre a maquiagem certa
No picadeiro ou no palco, ria e chorava!
A arquibancada as vezes que deserta,
A nossa palhaça de nada atrapalhava.

Usava mascara cotidiana
Era a lápis o seu choro
Sua alegria era insana
Seu corpo, banhado a ouro,
E chorava ala Diana
Com o seu chapéu de couro
Se fingindo puritana
Sufocando o seu choro!

Á vida era o palco
Reinava sua palhaçada
Com um pouco de talco
Se fazendo engraçada!

Atuava sem ensaio
Nos palcos da vida
Improvisava um desmaio
Sempre que ferida!

Não chorava de verdade
Só se estivesse escondida
Adorava a vaidade
A palhaçinha desmedida!

Estava sempre feliz
Se no palco se encontrasse
E dizia que era atriz
A quem lhe indagasse.

Fala ao coração

(obs: uma das poesias que mais gosto desde minha infancia)

Meu Coração, não batas, pára!
Meu Coração, vai-te deitar!
A nossa dor, bem sei é amarra,
Meu Coração, vamos sonhar...
Ao mundo vim, mas enganado.
Sinto-me farto de viver:
Vi o que ele era, estou maçado,
Vi o que ele era, estou maçado,
Não batas mais! Vamos morrer...
Bati à porta da Ventura
Ninguém ma abriu, bati em vão:
Vamos a ver se a sepultura,
Vamos a ver se a sepultura,
Nos faz o mesmo, Coração!
Adeus Planeta! adeus ó Lama!
Que ambos nós vais digerir.
Meu Coração, a velha chama,
Meu Coração, a velha chama,
Basta, por Deus! vamos dormir...

Autor: António Nobre

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Cerveja!

Uns a chamam de coragem,
Outros insistem que é prazer!
Eu num modo mais selvagem,
Ou por não ter o que dizer,

A classifico de miragem!
E sem saber o que fazer
Já deglutindo a imagem
Bebo! Em segundos de lazer

A lata de cerveja já vazia
Que jaz solitária sobre a pia
Induz-me a beber

Bebo, sentindo a fantasia
Que me desperta a elegia
E traz-me o saber.

Autor: G.Cardoso

Extraído do conto "Bêbado interurbano"

"Francine virou-se para ele e ele passu o braço em torno dela. Os bêbedos das três horas da manhã, em todos os Estados Unidos, fitavam as paredes, depois de terem finalmente desistido. Não era preciso ser bêbedo para se machucar, para cair sob a mira de uma mulher; mas a gente podia se machucar e se tornar um bêbedo. Você podia pensar por algum tempo, sobretudo quando era jovem, que estava com sorte, e às vezes estava mesmo. Mas havia todo tipo de médias e leis em ação das quais você nada sabia, mesmo quando imaginava que tudo ia indo bem. Uma noite, uma quente noite veranil de quinta-feira, você se tornava o bêbedo, você estava lá fora, sozinho num quarto de aluguel barato, e por mais que tivesse visto isso antes, não diantava, era até pior, porque você tinha pensando que não teria de enfrentar aquilo de novo. A única coisa que podia fazer era acender mais um cigarro, servir outra bebida, examinar as paredes descascadas em busca de olhos e lábios. O que homens e mulheres se faziam uns aos outros estava além da compreensão."

Autor: Henry "Charles Bukowski"

Alcool

Guilhotinas, pelouros e castelos
Resvalam longamente em procissão;
Volteiam-me crepúsculos amarelos,
Mordidos, doentios de roxidão.

Batem asas d'auréola aos meus ouvidos,
Grifam-me sons de côr e de perfumes,
Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,
Desce-me a alma, sangram-me os sentidos.

Respiro-me no ar que ao longe vem,
Da luz que me ilumina participo;
Quero reunir-me, e todo me dissipo -
Luto, estrebucho... Em vão! Silvo pra além...

Corro em volta de mim sem me encontrar...
Tudo oscila e se abate como espuma...
Um disco de ouro surge a voltear...
Fecho os meus olhos com pavor da bruma...

Que droga foi a que me inoculei?
Ópio d'inferno em vez de paraíso?...
Que sortilégio a mim próprio lancei?
Como é que em dor genial eu me eterizo?

Nem ópio nem morfina. O que me ardeu,
Foi alcool mais raro e penetrante:
É só de mim que eu ando delirante -
Manhã tão forte que me anoiteceu.


Autor: Mário de Sá Carneiro

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Como pássaro!

Quem me dera por entre nuvens voar
Plainando livre como um pássaro
Ouvindo o canto do vento ressoar
Plainando livre como um pássaro

Um hino de liberdade entoar
Plainando livre como um pássaro
Entoando a melodia sem desafinar
Plainando livre como pássaro

Batendo asas na brisa do luar
Plainando livre como um pássaro
Com a Terra e a lua a contemplar
Plainando livre como um pássaro

Plainando e plainando
Livre, como um pássaro.

Fim

Eis aqui teu poema
Como se usa um gesto
à espera de um beijo
em que se aproveita o resto
Pra saciar desejos

Que renasça o Sol
Quando leres cada verso
E o ponto finde a ação do verbo.

Não será de amor
Nem d'outros sentimentos
Será de brisa
de chuva
de vento
Tormento...

Não lamento!

Jamais será pequeno
Pois é para sempre
Este teu poema
Que lhe entrego em mãos
Sem valer a pena.

Não lhe direi mais
Porque não mais cabe
Continue a lê-lo
Ainda que se acabe.

Autor: Daniele Negreiros

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Era uma vez histórias

"Era uma vez"
pousava o timbre calmo de minha mãe
em meus ouvidos.
Eu adormecia antes do final.

Todas as noites, a mesma coisa
"Era uma vez", e eu dormia
sem ouvir o fim da história.

De manhã, ao acordar
sem saber do desfecho
eu inventava um
mamãe mal sabia
que ali nascia meu calvário.

Era uma vez um menino
que começou a inventar histórias
e depois disso
nunca mais dormiu.

Autor: Flávio Soares

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Destino ou coincidência! #2

Ela entra no bar, vai até o balcão e pede uma cerveja.
Ele a observa e pensa adoraria estar junto desse mulherão!
Ela vai até a mesa dele e pede para se sentar.
Ele lógico aceita a proposta.
Uns três anos depois estão casados e com filhos sem tempo para sexo.

Autor: G.Cardoso

Destino ou coincidência! #1

Ela entra no bar, vai até o balcão e pede uma cerveja.
Ele a observa e pensa adoraria estar junto desse mulherão!
Ela vai até a mesa dele e pede para se sentar.
Ele lógico aceita a proposta.
Umas três horas depois estão em um motel aproveitando da luxuria da vida.

Autor: G.Cardoso

O Coração Peludo do Mago

Era uma vez um jovem mago rico, bonito e talentoso, que observou que seus amigos agiam como tolos quando se apaixonavam, se enfeitando, andando aos saltos e corridinhas, perdendo o apetite e a dignidade. O jovem mago resolveu jamais se deixar dominar por tal fraqueza, e recorreu às artes das trevas para garantir sua imunidade.
Sem saber do seu segredo, a família do mago achava graça vê-lo tão distante e frio.
"Tudo mudará", vaticinavam eles, "quando uma donzela atrair seu interesse!"
O jovem mago, porém, permanecia impassível. Embora muita donzela se sentisse intrigada  por seu ar altivo e recorresse às artes mais sutis para agradá-lo, nenhuma conseguia tocar seu coração. Ele se vangloriava de sua indiferença e da sagacidade que a produzira.
O frescor da juventude foi dissipando-se e os jovens de mesma idade e posição que o mago começaram a casar e a ter filhos.
"O coração deles deve ser apenas uma casca", desdenhava ele mentalmente, observando o ridículo comportamento dos jovens pais ao seu redor, "ressacada pelas exigências desses pirralhos chorões!"
E mais uma vez ele se felicitou pela sabedoria da opção que fizera no primeiro momento.
No devido tempo, os pais do mago, já idosos, faleceram. O filho não lamentou a morte deles; ao contrário , considerou-se abençoado por terem desaparecido. Agora ele reinava sozinho em seu castelo. Depois de transferir o seu maior tesouro para a masmorra mais profunda , ele se entregou a uma vida desregrada e farta, na qual o seu conforto era o único objetivo dos inúmeros criados.
O mago estava convencido de que devia ser alvo da imensa inveja de todos que devia ser alvo da imensa inveja de todos que contemplavam sua solidão esplendida e despreocupada. Feroz, portanto, foi sua raiva e desgosto, quando um dia ouviu dois dos lacaios discutindo a sua pessoa.
O primeiro criado manifestou pena do mago que, com tanto poder e riqueza, continuava sem alguém que o amasse.
Seu colega, entretanto, desdenhou, perguntando por que um homem com tanto ouro e dono de tão esplêndido castelo não fora capaz de atrair uma esposa.
Tal conversa desferiu um terrível golpe no orgulho do mago que os ouvia.
Ele decidiu imediatamente escolher uma esposa, e uma que fosse superior a todas as existentes.
Possuiria uma beleza assombrosa e provocaria inveja e desejo em todo homem que a contemplasse; descenderia de uma fortuna no mínimo igual à dele, para garantir sua confortável existência, apesar do acréscimo de pessoas e despesas.
Encontrar tal mulher talvez levasse cinquenta anos, mas aconteceu que, no dia seguinte à sua decisão, chegou à vizinhança, em visita a parentes, uma donzela que correspondia a todos os seus desejos.
Era uma bruxa de prodigioso talento e dona de grande riqueza. Sua beleza era tanta que mexia com o coração de todos, exceto um. O coração do mago não sentiu absolutamente nada. Contudo, a moça era o prêmio que ele buscava, e, assim sendo, começou a cortejá-la.
Todos que notaram a mudança no comportamento do mago ficaram surpresos e disseram à donzela que ela tivera êxito, onde uma centena de outras havia fracassado.
A jovem, por sua vez, sentiu ao mesmo tempo fascínio e repulsa pelas atenções do mago. Ela pressentiu a frieza que havia sob o calor de suas lisonjas, pois jamais conhecera um homem tão estranho e distante. Seus parentes, contudo, consideraram essa uma união extremamente desejável e, muito interessados em promovê-la, aceitaram o convite do mago para um grande banquete em homenagem à donzela.
A mesa, carregada com peças de ouro e prata, continha os mais finos vinhos e as comidas mais suntuosas. Menestréis dedilhavam alaúde de cordas sedosas e cantavam um amor que o seu senhor jamais sentira. a donzela sentou-se em um trono ao lado do mago, que lhe falava suavemente, empregando palavras de carinho que roubara dos poetas, sem a mínima idéia do seu real significado.
A donzela ouvia, intrigada, e por fim respondeu:
-Você fala bonito, mago, e eu ficaria encantada com suas atenções, se ao menos acreditasse que você tem coração!
O mago sorriu e lhe respondeu que, quanto a isso, ela não precisava temer. Pediu-lhe que o acompanhasse e, conduzindo-a para fora do salão, desceu à masmorra trancada à chave onde guardava o seu maior tesouro.
Ali, em uma caixa de cristal encantada, encontrava-se o coração pulsante do mago.
Há muito tempo desligado dos olhos, ouvidos e dedos, o coração jamais se deixara cativar pela beleza, ou por uma voz musical, ou pelo tato de uma pele sedosa. A donzela ficou aterrorizada ao vê-lo, pois o coração encolhera e se cobrira de longos pêlos negros.
-Ah, o que você fez!-lamentou ela.-reponha o coração no lugar a que pertence, eu lhe imploro!
Ao perceber que isto era necessário para agradá-la, o mago apanhou a varinha , destrancou a caixa de cristal, abriu o próprio peito e repôs o coração peludo na cavidade vazia que outrora ocupara.
-Agora você está curado e conhecerá o verdadeiro amor! -exclamou a donzela e abraçou-o.
O toque dos macios braços alvos da donzela, o som de sua respiração no ouvido dele, o aroma dos seus cabelos dourados; tudo isto penetrou como uma lança o seu coração recém-despertado.
Mas órgão se corrompera durante o longo exílio, cego e selvagem na escuridão a que fora condenado, seus apetites tinham se tornado vorazes e perversos.
Os convidados ao banquete notaram a ausência do anfitrião e da donzela. A princípio despreocupados, começaram, porém, a se sentir ansiosos à medida que as horas passavam e, por fim, decidiram revistar o castelo.
Acabaram encontrando a masmorra, onde uma cena aterrorizante os aguardava.
A donzela jazia morta no chão, de peito aberto, e ao seu lado ajoelhava-se o mago enlouquecido, segurando em uma das mãos ensanguentadas um grande e reluzente coração, que ele lambia e acariciava, jurando trocá-lo pelo seu.
Na outra mão, ele empunhava a varinha, tentando induzir o coração murcho e peludo a sair do próprio peito. O coração, porém, era mais forte do que ele e se recusou a renunciar ao controle dos seus sentidos ou retornar à urna em que estivera trancado por tempo.
Diante do olhar aterrorizado dos convidados, o mago atirou para um lado a varinha e agarrou uma adaga de prata. jurando jamais ser dominado pelo próprio coração, arrancou-o do peito.
por um momento, o mago permaneceu de joelhos,triunfante, segurando um coração em cada mão; em seguida caiu atravessado sobre o corpo da donzela e morreu.

Autor: J.K.Rowling

Por quê?

                                                                                 Quem são vocês que ressoam
                                                     de forma estranha em minha mente?
                                                 Trazem recordações, alegrias, decepções,
                                                    tristezas, esperanças, encantamentos.


Por que um simples aroma
uma graciosa flor, uma canção
trazem vocês de volta ao meu coração?
Qual será o porquê?

Estão vocês no meu sangue,
na minha pele, no meu olfato,
preenchem cada uma de minhas células,
que carregam semiconscientes
o passado no presente inesperado?

Autor: Helena Maria Matos Ferreira