Na praia deserta que a lua branqueia,
Que mimo! que rosa! que filha de Deus!
Tão pálida - ao vê-la meu ser devaneia,
Sufoco nos lábios os hálitos meus!
Não corras na areia,
Nãi corras assim!
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!
A praia é tão longa! e a onda bravia
As roupas de gaza te molha de escuma;
De noite - aos serenos - a areis é tão fria,
tão úmido o vento que os ares perfuma!
És tão doentia!
Não corras assim!
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!
A brisa teus negros cabelos soltou,
O orvalho da face te esfria o suor;
Teus seios palpitam - a brisa os roçou,
Beijou-os, suspira, desmaia de amor!
Teu pé tropeçou...
Não corras assim!
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!
E o pálido mimo da minha paixão
Num longo soluço tremeu e parou;
Sentou-se na praia; sozinha no chão
A mão regalada no colo pousou!
Que tens, coração,
Que tremes assim?
Cansaste, donsela?
Tem pena de mim!
Deitou-se na areia que a vaga molhou.
Imóvel e branca na praia dormia;
Mas nem os seus olhos o sono fechou
E nem o seu colo de ne tremia.
O seio gelou?...
Não durmas assim!
Ó pálida fria,
Tem pena de mim!
Dormia - na fronte que níveo suar!
Que mão regelada no lânguido peito!
Não era mais alvo seu leito do mar.
Não era mais frio seu gélido leito!
Nem um ressoar!...
Não durmas assim!
Ó pálida fria,
Tem pena de mim!
Aqui no meu peito vem antes sonhar
Nos longos suspiros do meu coração:
Eu quero em meus lábios tue seio aquentar,
Teu colo, essa faces, e a gélida mão!
Não durmas no mar!
Não durmas assim.
Estatua sem vida,
Tem pena de mim!
E a vaga crescia seu corpo banhado,
As candidas formas movendo de leve!
E eu vi-a suave nas águas boiando
Com soltos cabelos nas roupas de neve!
Nas vagas sonhanda
Não durmas assim;
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!
E a imagem da virgem nas águas do mar
Brilhava tão branca no límpedo véu!
Nem mais transparente luzia o luar
No ambiente sem nuvens da noite do céu!
Nas águas do mar
Não durmas assim!
Não morras donzela;
Espera por mim!
Autor: Álvares de Azevedo
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