segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Choro a lápis

Usava sempre a maquiagem certa
No picadeiro ou no palco, ria e chorava!
A arquibancada as vezes que deserta,
A nossa palhaça de nada atrapalhava.

Usava mascara cotidiana
Era a lápis o seu choro
Sua alegria era insana
Seu corpo, banhado a ouro,
E chorava ala Diana
Com o seu chapéu de couro
Se fingindo puritana
Sufocando o seu choro!

Á vida era o palco
Reinava sua palhaçada
Com um pouco de talco
Se fazendo engraçada!

Atuava sem ensaio
Nos palcos da vida
Improvisava um desmaio
Sempre que ferida!

Não chorava de verdade
Só se estivesse escondida
Adorava a vaidade
A palhaçinha desmedida!

Estava sempre feliz
Se no palco se encontrasse
E dizia que era atriz
A quem lhe indagasse.

Fala ao coração

(obs: uma das poesias que mais gosto desde minha infancia)

Meu Coração, não batas, pára!
Meu Coração, vai-te deitar!
A nossa dor, bem sei é amarra,
Meu Coração, vamos sonhar...
Ao mundo vim, mas enganado.
Sinto-me farto de viver:
Vi o que ele era, estou maçado,
Vi o que ele era, estou maçado,
Não batas mais! Vamos morrer...
Bati à porta da Ventura
Ninguém ma abriu, bati em vão:
Vamos a ver se a sepultura,
Vamos a ver se a sepultura,
Nos faz o mesmo, Coração!
Adeus Planeta! adeus ó Lama!
Que ambos nós vais digerir.
Meu Coração, a velha chama,
Meu Coração, a velha chama,
Basta, por Deus! vamos dormir...

Autor: António Nobre

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Cerveja!

Uns a chamam de coragem,
Outros insistem que é prazer!
Eu num modo mais selvagem,
Ou por não ter o que dizer,

A classifico de miragem!
E sem saber o que fazer
Já deglutindo a imagem
Bebo! Em segundos de lazer

A lata de cerveja já vazia
Que jaz solitária sobre a pia
Induz-me a beber

Bebo, sentindo a fantasia
Que me desperta a elegia
E traz-me o saber.

Autor: G.Cardoso

Extraído do conto "Bêbado interurbano"

"Francine virou-se para ele e ele passu o braço em torno dela. Os bêbedos das três horas da manhã, em todos os Estados Unidos, fitavam as paredes, depois de terem finalmente desistido. Não era preciso ser bêbedo para se machucar, para cair sob a mira de uma mulher; mas a gente podia se machucar e se tornar um bêbedo. Você podia pensar por algum tempo, sobretudo quando era jovem, que estava com sorte, e às vezes estava mesmo. Mas havia todo tipo de médias e leis em ação das quais você nada sabia, mesmo quando imaginava que tudo ia indo bem. Uma noite, uma quente noite veranil de quinta-feira, você se tornava o bêbedo, você estava lá fora, sozinho num quarto de aluguel barato, e por mais que tivesse visto isso antes, não diantava, era até pior, porque você tinha pensando que não teria de enfrentar aquilo de novo. A única coisa que podia fazer era acender mais um cigarro, servir outra bebida, examinar as paredes descascadas em busca de olhos e lábios. O que homens e mulheres se faziam uns aos outros estava além da compreensão."

Autor: Henry "Charles Bukowski"

Alcool

Guilhotinas, pelouros e castelos
Resvalam longamente em procissão;
Volteiam-me crepúsculos amarelos,
Mordidos, doentios de roxidão.

Batem asas d'auréola aos meus ouvidos,
Grifam-me sons de côr e de perfumes,
Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,
Desce-me a alma, sangram-me os sentidos.

Respiro-me no ar que ao longe vem,
Da luz que me ilumina participo;
Quero reunir-me, e todo me dissipo -
Luto, estrebucho... Em vão! Silvo pra além...

Corro em volta de mim sem me encontrar...
Tudo oscila e se abate como espuma...
Um disco de ouro surge a voltear...
Fecho os meus olhos com pavor da bruma...

Que droga foi a que me inoculei?
Ópio d'inferno em vez de paraíso?...
Que sortilégio a mim próprio lancei?
Como é que em dor genial eu me eterizo?

Nem ópio nem morfina. O que me ardeu,
Foi alcool mais raro e penetrante:
É só de mim que eu ando delirante -
Manhã tão forte que me anoiteceu.


Autor: Mário de Sá Carneiro

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Como pássaro!

Quem me dera por entre nuvens voar
Plainando livre como um pássaro
Ouvindo o canto do vento ressoar
Plainando livre como um pássaro

Um hino de liberdade entoar
Plainando livre como um pássaro
Entoando a melodia sem desafinar
Plainando livre como pássaro

Batendo asas na brisa do luar
Plainando livre como um pássaro
Com a Terra e a lua a contemplar
Plainando livre como um pássaro

Plainando e plainando
Livre, como um pássaro.

Fim

Eis aqui teu poema
Como se usa um gesto
à espera de um beijo
em que se aproveita o resto
Pra saciar desejos

Que renasça o Sol
Quando leres cada verso
E o ponto finde a ação do verbo.

Não será de amor
Nem d'outros sentimentos
Será de brisa
de chuva
de vento
Tormento...

Não lamento!

Jamais será pequeno
Pois é para sempre
Este teu poema
Que lhe entrego em mãos
Sem valer a pena.

Não lhe direi mais
Porque não mais cabe
Continue a lê-lo
Ainda que se acabe.

Autor: Daniele Negreiros

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Era uma vez histórias

"Era uma vez"
pousava o timbre calmo de minha mãe
em meus ouvidos.
Eu adormecia antes do final.

Todas as noites, a mesma coisa
"Era uma vez", e eu dormia
sem ouvir o fim da história.

De manhã, ao acordar
sem saber do desfecho
eu inventava um
mamãe mal sabia
que ali nascia meu calvário.

Era uma vez um menino
que começou a inventar histórias
e depois disso
nunca mais dormiu.

Autor: Flávio Soares

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Destino ou coincidência! #2

Ela entra no bar, vai até o balcão e pede uma cerveja.
Ele a observa e pensa adoraria estar junto desse mulherão!
Ela vai até a mesa dele e pede para se sentar.
Ele lógico aceita a proposta.
Uns três anos depois estão casados e com filhos sem tempo para sexo.

Autor: G.Cardoso

Destino ou coincidência! #1

Ela entra no bar, vai até o balcão e pede uma cerveja.
Ele a observa e pensa adoraria estar junto desse mulherão!
Ela vai até a mesa dele e pede para se sentar.
Ele lógico aceita a proposta.
Umas três horas depois estão em um motel aproveitando da luxuria da vida.

Autor: G.Cardoso

O Coração Peludo do Mago

Era uma vez um jovem mago rico, bonito e talentoso, que observou que seus amigos agiam como tolos quando se apaixonavam, se enfeitando, andando aos saltos e corridinhas, perdendo o apetite e a dignidade. O jovem mago resolveu jamais se deixar dominar por tal fraqueza, e recorreu às artes das trevas para garantir sua imunidade.
Sem saber do seu segredo, a família do mago achava graça vê-lo tão distante e frio.
"Tudo mudará", vaticinavam eles, "quando uma donzela atrair seu interesse!"
O jovem mago, porém, permanecia impassível. Embora muita donzela se sentisse intrigada  por seu ar altivo e recorresse às artes mais sutis para agradá-lo, nenhuma conseguia tocar seu coração. Ele se vangloriava de sua indiferença e da sagacidade que a produzira.
O frescor da juventude foi dissipando-se e os jovens de mesma idade e posição que o mago começaram a casar e a ter filhos.
"O coração deles deve ser apenas uma casca", desdenhava ele mentalmente, observando o ridículo comportamento dos jovens pais ao seu redor, "ressacada pelas exigências desses pirralhos chorões!"
E mais uma vez ele se felicitou pela sabedoria da opção que fizera no primeiro momento.
No devido tempo, os pais do mago, já idosos, faleceram. O filho não lamentou a morte deles; ao contrário , considerou-se abençoado por terem desaparecido. Agora ele reinava sozinho em seu castelo. Depois de transferir o seu maior tesouro para a masmorra mais profunda , ele se entregou a uma vida desregrada e farta, na qual o seu conforto era o único objetivo dos inúmeros criados.
O mago estava convencido de que devia ser alvo da imensa inveja de todos que devia ser alvo da imensa inveja de todos que contemplavam sua solidão esplendida e despreocupada. Feroz, portanto, foi sua raiva e desgosto, quando um dia ouviu dois dos lacaios discutindo a sua pessoa.
O primeiro criado manifestou pena do mago que, com tanto poder e riqueza, continuava sem alguém que o amasse.
Seu colega, entretanto, desdenhou, perguntando por que um homem com tanto ouro e dono de tão esplêndido castelo não fora capaz de atrair uma esposa.
Tal conversa desferiu um terrível golpe no orgulho do mago que os ouvia.
Ele decidiu imediatamente escolher uma esposa, e uma que fosse superior a todas as existentes.
Possuiria uma beleza assombrosa e provocaria inveja e desejo em todo homem que a contemplasse; descenderia de uma fortuna no mínimo igual à dele, para garantir sua confortável existência, apesar do acréscimo de pessoas e despesas.
Encontrar tal mulher talvez levasse cinquenta anos, mas aconteceu que, no dia seguinte à sua decisão, chegou à vizinhança, em visita a parentes, uma donzela que correspondia a todos os seus desejos.
Era uma bruxa de prodigioso talento e dona de grande riqueza. Sua beleza era tanta que mexia com o coração de todos, exceto um. O coração do mago não sentiu absolutamente nada. Contudo, a moça era o prêmio que ele buscava, e, assim sendo, começou a cortejá-la.
Todos que notaram a mudança no comportamento do mago ficaram surpresos e disseram à donzela que ela tivera êxito, onde uma centena de outras havia fracassado.
A jovem, por sua vez, sentiu ao mesmo tempo fascínio e repulsa pelas atenções do mago. Ela pressentiu a frieza que havia sob o calor de suas lisonjas, pois jamais conhecera um homem tão estranho e distante. Seus parentes, contudo, consideraram essa uma união extremamente desejável e, muito interessados em promovê-la, aceitaram o convite do mago para um grande banquete em homenagem à donzela.
A mesa, carregada com peças de ouro e prata, continha os mais finos vinhos e as comidas mais suntuosas. Menestréis dedilhavam alaúde de cordas sedosas e cantavam um amor que o seu senhor jamais sentira. a donzela sentou-se em um trono ao lado do mago, que lhe falava suavemente, empregando palavras de carinho que roubara dos poetas, sem a mínima idéia do seu real significado.
A donzela ouvia, intrigada, e por fim respondeu:
-Você fala bonito, mago, e eu ficaria encantada com suas atenções, se ao menos acreditasse que você tem coração!
O mago sorriu e lhe respondeu que, quanto a isso, ela não precisava temer. Pediu-lhe que o acompanhasse e, conduzindo-a para fora do salão, desceu à masmorra trancada à chave onde guardava o seu maior tesouro.
Ali, em uma caixa de cristal encantada, encontrava-se o coração pulsante do mago.
Há muito tempo desligado dos olhos, ouvidos e dedos, o coração jamais se deixara cativar pela beleza, ou por uma voz musical, ou pelo tato de uma pele sedosa. A donzela ficou aterrorizada ao vê-lo, pois o coração encolhera e se cobrira de longos pêlos negros.
-Ah, o que você fez!-lamentou ela.-reponha o coração no lugar a que pertence, eu lhe imploro!
Ao perceber que isto era necessário para agradá-la, o mago apanhou a varinha , destrancou a caixa de cristal, abriu o próprio peito e repôs o coração peludo na cavidade vazia que outrora ocupara.
-Agora você está curado e conhecerá o verdadeiro amor! -exclamou a donzela e abraçou-o.
O toque dos macios braços alvos da donzela, o som de sua respiração no ouvido dele, o aroma dos seus cabelos dourados; tudo isto penetrou como uma lança o seu coração recém-despertado.
Mas órgão se corrompera durante o longo exílio, cego e selvagem na escuridão a que fora condenado, seus apetites tinham se tornado vorazes e perversos.
Os convidados ao banquete notaram a ausência do anfitrião e da donzela. A princípio despreocupados, começaram, porém, a se sentir ansiosos à medida que as horas passavam e, por fim, decidiram revistar o castelo.
Acabaram encontrando a masmorra, onde uma cena aterrorizante os aguardava.
A donzela jazia morta no chão, de peito aberto, e ao seu lado ajoelhava-se o mago enlouquecido, segurando em uma das mãos ensanguentadas um grande e reluzente coração, que ele lambia e acariciava, jurando trocá-lo pelo seu.
Na outra mão, ele empunhava a varinha, tentando induzir o coração murcho e peludo a sair do próprio peito. O coração, porém, era mais forte do que ele e se recusou a renunciar ao controle dos seus sentidos ou retornar à urna em que estivera trancado por tempo.
Diante do olhar aterrorizado dos convidados, o mago atirou para um lado a varinha e agarrou uma adaga de prata. jurando jamais ser dominado pelo próprio coração, arrancou-o do peito.
por um momento, o mago permaneceu de joelhos,triunfante, segurando um coração em cada mão; em seguida caiu atravessado sobre o corpo da donzela e morreu.

Autor: J.K.Rowling

Por quê?

                                                                                 Quem são vocês que ressoam
                                                     de forma estranha em minha mente?
                                                 Trazem recordações, alegrias, decepções,
                                                    tristezas, esperanças, encantamentos.


Por que um simples aroma
uma graciosa flor, uma canção
trazem vocês de volta ao meu coração?
Qual será o porquê?

Estão vocês no meu sangue,
na minha pele, no meu olfato,
preenchem cada uma de minhas células,
que carregam semiconscientes
o passado no presente inesperado?

Autor: Helena Maria Matos Ferreira